sexta-feira, março 09, 2007

A minha família e outros animais

Infelizmente, não sou eu o autor deste título genial e antes que fosse acusado de plágio, prontifico-me a esclarecer o caso, até para evitar ser deserdado, projectado pela janela de casa ou vítima de tragédia semelhante levada a cabo por algum familiar. Este é o título de um livro, que nos anos 80 foi série de televisão, escrito por Gerald Durrel que descreve os anos de juventude passados em Corfu com a família e um rol de outros personagens, incluindo pombos, cobras-d'água e escorpiões.
Mais tarde, o senhor tornou-se um naturalista de algum renome, esteve na génese do zoo de Jersey e foi responsável pelo desenvolvimento de vários programas de reprodução em cativeiro e re-introdução de espécies animais em vias de extinção. Se calhar não ganhou mais renome porque não apareceu a fazer festinhas a gorilas ou tigres; lembro-me sempre de o associar a seres como o periquito-das-maurícias (Psittacula echo) ou o pombo-rosa (Nesoenas mayeri), que obviamente ninguém sabe o que são, até porque estiveram quase a poder ser apenas vistos empalhados em museus ou em gravuras antigas. Felizmente, e graças ao esforço conjunto de várias pessoas, ainda é possível ver ao vivo e a cores estes e outros bicharocos.
Provavelmente terá sido um inspirador e principalmente quando era mais novo, não deixo poder de estabelecer alguns paralelos. Infelizmente, não vivia no campo, mas sim em Lisboa. Mas mesmo assim consegui ao longo dos anos infestar a casa com rãs, salamandras, lagartixas, lagartas, minhocas, peixes, hamster e miriíades de outras pequenas criaturas. Tenho a agradecer a elas as horas infindáveis de observação e o prazer que ainda hoje me proporciona ir para o campo e aperceber-me como o mundo é diversificado e, por enquanto, ainda um bom local para viver.
Obviamente, não vivia só entre sapos e escaravelhos; Também andavam por casa o meu pai, a minha mãe e uma irmã. É verdade que por vezes tiveram que esticar a paciência para com o filho adorado (a prova de fogo deve ter sido a iguana), mas na maior parte dos casos nem sonham com o que já passou por casa nem com a quantidade de fugas dos aquários e terrários (a pior terá sido a fuga em massa de algumas dezenas de salamandras, algumas das quais nunca foram encontradas...). No fim, lá acabaram por se resignar e achar que o filho não tinha mesmo remédio. A minha irmã foi sempre mais tolerante, excepto daquela vez em que me acordou ás 4 da manhã aos gritos porque tinha uma salamandra a trapar-lhe pela cama acima. Que histérica...
Hoje, partilho a casa com uma Mãe hipertensa (o que às vezes se reflecte na falta de paciência com algumas coisas) e trabalhadora, um Pai diabético e reformado sempre à volta com eternas reparações e bricolages caseiras, uma Irmã artista plástica com aspirações a alternativa e a melhor parceira para discussões (com tudo incluído, gritos, peixeirada, portas a bater, coisas a voar... como só os irmãos sabem fazer), um gato obeso (nem vou dizer quantos quilos) e com instintos homicidas, uma iguana e alguns terrários com seres tão invulgares como sapos-de-barriga-de-fogo, gekos-leopardo ou tritões verrucosos. Home, sweet Home...

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