domingo, fevereiro 11, 2007

Inevitavelmente... o referendo

Infelizmente, a história relatada em seguida é verídica:

...Após ter sido deixada na clínica durante cerca de uma hora enquanto o senhor que a acompanhava foi resolver uns quaisquer assuntos no escritório, resolvemos começar a fazer chamadas para saber do seu paradeiro, com receio de ficarmos em mãos mais um caso de abandono. Faltava cerca de 30 minutos para encerrarmos as portas quando o senhor se dignou a aparecer e lá podemos começar a consulta.
-Então o que é que se passa com a pequenita?
- Bem, ela já não come há uma semana e acho que também não bebe muita água.
- Uma semana?!... sabe que períodos de anoréxia superiores a 24 h já levam a situações bastante graves.
- Pois, mas vocês estão fechados à hora de almoço...
- Mas só encerramos às 20h00, o que é um horário bastante alargado. Devia ter vindo há muito mais tempo.
- Pois, mas é impossível.
- Bom, então vamos lá a ver... notou alguma alteração de comportamento, ela tem estado activa, etc.
- Pois, não sei...
- E as fezes e urina, têm sido normais?
- Sim.
- Mas ela está completamente suja. Tem diarreia.
- Sim.
- Então em que é que ficamos?
- Pois, tem tido diarreia. Eu acho que ela tem qualquer problema dos dentes.
- Pode ser, mas ela está extremamente magra e desidratada. O que neste momento, é o seu principal problema.
- Ah... e será que lhe podia cortar as unhas?
- Neste momento as unhas são completamente secundárias.
A partir deste momento a voz do senhor começou a soar-me muito distante e indefenida. A irresponsabilidade e negligência tinham atingido novos patamares. A consulta ainda se prolongou por mais uns minutos sempre com comentários semelhantes, que era uma chatice, que era uma maçada e por aí fora. Não pude deixar de me sentir profundamente triste porque era óbvio que ela não iria receber em casa os cuidados necessários para se manter viva sequer e que não podia fazer nada quanto a isso.
Esta longa história para dizer que votei "Sim" no referendo de hoje, por todos os motivos, que não me vou alongar aqui a explanar mas também porque de certeza que a "Bunny"* teria preferido que a sua mãe tivesse abortado para não ter de passar por esta morte definhante. Ou, se calhar melhor, que os pais dos seus donos tivessem abortado. O que é que algumas pessoas andam aqui a fazer?
*nome fictício

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